Por que a água doce está ameaçada?

Depois de brincar muito debaixo de um sol escaldante, você entra em casa, corre para o chuveiro, abre a torneira e... Nem uma gota d’água. Aí, você pensa: – Daqui a pouco ela volta –, decide dar uma olhada na geladeira e... Nada de água para beber. Então, sua mãe aparece e diz que, infelizmente, não pôde fazer o almoço porque não tem água para cozinhar. – Céus! – você grita. – É um complô contra mim?

São situações como essas que nos mostram o quanto a água doce é preciosa. Vivemos num planeta cuja área ocupada pela água é cerca de três vezes maior do que a ocupada pela terra firme. Imagine que toda essa água pudesse ser dividida em 100 piscinas. Tome nota: 97 seriam cheias com água salgada e apenas três, com água doce. Duas dessas piscinas e mais um terço da terceira são formadas pelo gelo acumulado nos pólos e no alto das montanhas. Logo, apenas dois terços do que falta para encher a terceira piscina são de água doce líquida. Essa comparação dá uma idéia de como a quantidade de água doce disponível para o nosso uso é pequena diante de toda a água existente na Terra.

Agora, vamos pensar em números: alguns cientistas estimaram que há água doce suficiente para que cada pessoa tenha direito a 8.300.000 litros por ano. Mas eles acreditam que sejam gastos apenas 3.000.000 por pessoa. Então, você deve estar pensando: se cada pessoa gasta cerca de um terço da água doce a que teria direito, não há razões para preocupação. Engano seu, porque a água doce não está distribuída igualmente sobre a Terra.

A Europa e a Ásia, que concentram cerca de um terço da população mundial, dispõem de apenas um quarto de água doce. Na África, onde fica metade da água doce do mundo, mora apenas a décima parte da população do planeta. Na região amazônica, está um quinto da água doce e um centésimo da população mundial. No nordeste brasileiro, onde vive quase um quarto dos habitantes do país, não há água doce em quantidade suficiente. Viu só que desequilíbrio?

As principais fontes de água doce são os rios, lagos, lagoas e lençóis freáticos – a camada de água que fica sob o solo. Aqui no Brasil, e em muitas outras partes do mundo, essas fontes, que já são mal distribuídas, sofrem ainda com a poluição e outros problemas. Fertilizantes empregados na agricultura, por exemplo, contaminam a água sob o solo; resíduos industriais e residenciais não tratados sujam os rios; o desmatamento das matas que beiram rios e lagos, assim como as ocupações irregulares dessas margens, afeta drasticamente a disponibilidade de água nesses ambientes porque, sem essa proteção natural, as chuvas carregam os sedimentos de fora para dentro desses rios e lagos, aterrando-os.

E mais: muitos reservatórios de água doce, em especial as lagoas costeiras, podem, digamos, se tornar salgados. Isso porque, com o aumento da temperatura do planeta e o conseqüente derretimento das calotas polares, o nível do mar se torna maior, podendo invadir lagoas costeiras de água doce, salinizando suas águas e tornando-as impróprias para o uso humano. Tal efeito já é notado na África.

É preciso, então, muita consciência na hora de usar a água doce porque todas essas razões a colocam ameaçada, sim! 


ESTEVES, Francisco de Assis &  SILVA, Adriano Caliman Ferreira da. Porque a água doce está ameaçada? Revista Ciência Hoje das Crianças, edição 183, 2007.
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