“Muitos de nós comumente nos perguntamos para onde vai toda essa sujeira que despejamos na atmosfera?Será que as moléculas de gás carbônico sobem até as camadas superiores da atmosfera e daí escapam para o espaço sideral? Ou será que elas simplesmente vão se acumulando na atmosfera? Ou será então que todas elas são capturadas pelos organismos fotossintetizante (plantas verdes e certos micróbios)?
Neste último caso, alguém ainda poderia perguntar: quais seriam os capturadores mais importantes, a vegetação que cresce em terra firme ou o microscópio fitoplâncton marinho? como um pouco de esforço, também poderíamos pensar em rotas alternativas adicionais, do tipo: será que o excesso de gás carbônico que despejamos na atmosfera não termina sendo absorvido pelo solo ou, quem sabe, pela água dos oceanos?
O fato é que no último caso nós começamos a perceber que as coisas não são exatamente como parecem ser à primeira vista. No caso da liberação de dióxido de carbono – o que vem ocorrendo em escala crescente desde meados do século 19 – as pesquisas científicas estão agora apontando para dois cenários igualmente preocupantes. Por um lado, a concentração, desse gás na atmosfera vem aumentando de modo consistente e continuado, tendência essa retratada na curva de Keeling. Por outro, estamos agora constatando que uma parcela expressiva do total que despejamos na atmosfera também está indo parar nos oceanos.
O aumento na concentração de dióxido de carbono na atmosfera está relacionado com o efeito estufa, que provoca a elevação na temperatura da superfície terrestre em função do aprisionamento de aparcelas crescentes de energia solar. O aumento da concentração de dióxido de carbono nos oceanos terá efeitos igualmente negativos, embora só agora estejamos obtendo uma perspectiva mais clara e ampla do problema. Um dos efeitos notáveis que já estão sendo registrados é a diminuição na alcalinidade ( o que equivale a aumentar a acidez) da água dos oceanos.
Pode parecer apenas um detalhe irrelevante. No entanto, o problema é potencialmente devastador, diminuir a alcalinidade dos oceanos implicaria a diluição química de certas moléculas, incluindo moléculas-chave usadas como matéria-prima na confecção de estruturas esqueléticas por diversos organismos marinhos (corais, esponjas, moluscos etc.). Alguns desses seres vivos, por sua vez, cumprem papéis ecológicos fundamentais. Esse é o caso dos corais, aquele organismos que dá forma e vigor ao arquipélago de Abrolhos, no litoral sul da Bahia.
Em resumo, a liberação continuada de dióxido de carbono na atmosfera está, ao que tudo indica, esquentando o planeta. Como se não bastasse, descobrimos agora que o lixo que estamos despejando, na atmosfera pode também vir a ‘liquefazer’ boa parte dos seres vivos que hoje ajudam a sustentar tudo aquilo que chamamos de vida marinha. Vivemos em tempos difíceis, mas definitivamente não podemos assistir a tudo isso de braços cruzados.”
COSTA, Felipe. A. P. L. 2006. A curva de Keeling e outros processos invisíveis que afetam a vida na Terra. Moderna : São Paulo.