A vida no mar Morto e no Great Salt Lake

A maioria dos organismos não é capaz de tolerar sal, razão por que ele foi usado como conservante muito antes do advento dos frigorífícos e geladeiras. Os halófilos, no entanto, florescem em mares extremamente salgados, como o mar Morto e o Gret Salt Lake, em Utah. Lagos salgados surgem quando mais água é perdida por evaporação do que entra pelos cursos de água que os alimentam. Em ambientes quentes, portanto, eles podem se formar de modo passageiro durante os meses de verão. Como a água slagada é mais pesada e afunda, os lagos salgados tendem a se mais salinos no fundo e mais frescas na superfície. Alguns são tão altamente alcalino que seus habitantes têm de se adaptar não só à salinidade como à alcalinidade elevada.
Mar Morto. Foto: Wikipedia


O mais salgado de todos os mares é o mar Morto, com um teor de sal de 28%, dez vezes mais que o do oceano. Isso é mais ou menos todo o sal que a água pode conter sem ele se precipite. A densidade do mar Morto é de fato tão alta que é possível sentar-se na água e ler o jornal, como atestam muitos cartões-postais e instantâneos tirados em férias. Situado no mais profundo continental do planeta, o mar Morto está 400m abaixo do nível do mar, no deserto jordaniano. Como o sol intenso do deserto provoca substancial perda de água por evaporação, apesar de ser alimentado por cursos d'água fresca, sua salinidade não se reduz. Mar Morto é um nome extremamente inadequado para ele, pois está muito longe de ser morto: grandes populações de algas, bactérias e arquéias florescem nas águas salgadas. A maioria é de halófilos obrigatórios, que são incapazes de tolerar concentrações de sal de menos de 15%. Alguns têm cores espetaculares, como as halobactérias vermelhas que ocasionalmente proliferam tanto que o mar fica cor de sangue.


Se não interferirmos, a Natureza tem a tendência de equalizar as coisas.  Derrame um copo de água do mar em outro de água fresca e por fim você vai obter uma solução homogênea. Como as membranas das células não são completamente impermeáveis à água, uma célula posta numa solução muita salgada vai encolher, à medida que a água sai para equalizar a concentração nas soluções interna e externa. Em consequência, a célula fica desidratada. Esse é o problema que os halófitos enfrentam. Muitos lidam com ele aumentando a concentração de sal no interior de suas células para igualá-las à do ambiente circundante; alguns, como Halobacterium salinarium, concentram cloreto de potássio em níveis muito altos - a mais de 200 vezes o que temos em nossas próprias células. Outros adotam uma tática diferente e produzem solutos orgânicos que ajudam suas células a reter água. Essa estratégia, é claro, apenas substitui um problema por outro, pois suas enzimas devem ser capazes de lidar com altos níveis intracelulares de sal. Como fazem isso é uma pergunta ainda sem resposta.


Arquéias e bactérias não são os únicos habitantes dos lagos salgados, algumas algas também conseguem sobreviver neles. Eles colorem a água com tonalidades brilhantes de vermelho, azul e verde e servem de alimento para um pequeno crustáceo, o camarão de água slagada Artemia salina, que também tolera condições extremamente salgadas. Artemia é uma das poucas criaturas multicelulares que vivem no Great Salt Lake de Utah. em certas ocasiões do ano, seus ovos se espalham pela superfície do lago, formando uma poeira marrom de partículas pequeníssimas que é soprada pelo vento. Os ovos são extraordianriamente fortes, capazes de resistir à seca e ao sal, e podem permanecer em estado de suspensão temporária das funções vitais por um período considerável até que a imersão na água volte a despertá-los.
<i>Artemia salina</i>. Foto: Wikipedia.


ASHCROFT, Frances. A vida no limite: a ciência da sobrevivência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.  p. 279-280
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