O peixe-vampiro

Nas águas geralmente turvas dos rios da bacia do Amazonas e do Paraná-Paraguai vive o peixe-vampiro. Verdade! Seu nome é candiru, um pequeno bagre que só se alimenta do sangue de outros peixes. Pouco conhecido, ele tem dentes afiados, em forma de agulha e ligeiramente encurvados, capazes de fazer inveja até ao Conde Drácula!

Mas como um peixe pode alimentar-se de sangue - que é liquido – vivendo na água? Será que ele é capaz de chupar sangue, como faz o Conde Drácula?

Para alimentar-se, o candiru escolhe um peixe maior e entra na sua câmera branquial, isto é, no espaço que abriga as brânquias ou guelras, os órgãos de respiração do animal. Ali, o candiru precisa apenas furar uma artéria, por onde passa o sangue bombeado pelo coração da vitima, para matar sua fome de sangue. A força que faz o sangue circular dentro da artéria leva o liquido a sair pelo furo feito pelo candiru e a encher o seu tubo digestivo: o estômago e intestino. Assim sendo, o peixe-vampiro só precisa encaixar a boca dentro da ferida e deixar o sangue rolar...

O candiru leva menos de um minuto para ficar com o tubo digestivo repleto de sangue. Ou, se você preferir, com “a barriguinha cheia”. Então, ele abandona o peixe que lhe proporcionou a refeição! Na natureza, quando não esta se alimentando, ele costuma se enterrar no lodo do fundo do rio, provavelmente para escapar de predadores. Hábitos semelhantes aos daquele famoso vampiro que reza a lenda, mora na Transilvânia e também vive escondido, porem, em um caixão...

Como evitar o ataque do peixe vampiro?
Alguns peixes que são vitimas do candiru sabem se defender de seus ataques. Um deles é o tambaqui, que pode medir mais de um metro. Mas não pense que ele apela para alhos, cruzes ou estacas no coração, como os caçadores de vampiros. A sua estratégia é muito mais simples: tentar, a todo custo, impedir a entrada do candiru. Mas como fazer isso, se esse peixe é pequeno, fino e escorregadio, um verdadeiro, mestre na arte em se enfiar em frestas?

O tambaqui, que não é bobo, força uma estrutura que protege as suas brânquias – o opérculo – contra o corpo, para evitar a entrada do candiru. Como é capaz de respirar usando apenas umas das aberturas branquiais, ele pode manter fechada aquela na qual o candiru está tentando entrar. Às vezes, o tambaqui até pára a respiração por completo, fechando ambas as aberturas branquiais. Mas, como não dá para prender a respiração por muito tempo, uma hora ou outra, ele precisa abrir o opérculo.

Neste momento, lá vai o candiru para dentro da câmara branquial.

No entanto, há ainda outra forma de o tambaqui afastar o peixe-vampiro. Ele pode, por exemplo, usar a nadadeira peitoral – que fica ao lado das aberturas branquiais – para prender o candiru contra seu corpo ou lhe dar um safanão, um tipo de “chega-pra-lá”.

Os candirus, porém, são persistentes e, além disso, têm lá as suas contradefesas! Podem, por exemplo, entrar pela boca do tambaqui para, depois, alcançar a câmara branquial. Quando o tambaqui pára totalmente a respiração, fechando também a boca, candirus menores podem entrar por uma das narinas e lá morder um vaso sanguíneo para se empanturrar de sangue. Mas não é só. Embora não seja algo comum, esses vampiros das águas também já foram encontrados na cloaca – abertura que fica ao final do intestino -, ou em ferimentos externos de outros peixes.

Muito a descobrir
Os candirus são conhecidos pela ciência há 150 anos, mas, ainda hoje, há poucas informações a seu respeito. Não é possível dizer com precisão, por exemplo, qual é o seu ciclo de atividade diária, embora se saiba que uma das espécies de candiru procura as suas vítimas tanto de dia quanto de noite. Além disso, pouco se sabe sobre a sua reprodução e nada sobre o seu crescimento.

Isso ocorre por conta dos hábitos, dos candirus, que vivem em águas turvas, enterrados no lodo, alimentando-se dentro da câmara branquial de outros peixes. Igual a qualquer vampiro que se preze, o candiru vive longe dos nossos olhos curiosos. Mas, quem sabe um dia,  conheceremos todos os seus segredos?

ZUANON, Jansen & SAZIMA, Ivan. O peixe-vampiro. Ciência Hoje das Crianças, ano 17, nº 151, out. 2004.
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